segunda-feira, abril 26, 2010

Em relação às declarações de Sarkozy…


“A burka ou burca é uma veste feminina que cobre todo o corpo, até o rosto e os olhos É usada pelas mulheres do Afeganistão e do Paquistão, em áreas próximas à fronteira com o Afeganistão.

O seu uso deve-se ao facto de muitos muçulmanos acreditarem que o livro sagrado islâmico, o Alcorão, e outras fontes de estudos, como Hadith e Sunnah, exigem a homens e mulheres que se vistam e comportem modestamente em público.” (in Wikipédia)


Parece que Sarkozy não concorda com este preceito inerente à cultura islâmica, achando que “a burka não é um símbolo religioso, mas antes um símbolo da subjugação, da subjugação das mulheres”. Foram algumas as opiniões aqui deixadas em relação a este assunto. Se, por um lado, compreendo a ideia de Sarkozy, por outro, não concordo com esta atitude do Governo Francês de se intrometer nos costumes e preceitos de uma cultura. Afinal de contas o Estado deve ser laico.

É que o Presidente francês não quer só eliminar o uso da burka nos locais públicos, quer também proibir a sua venda em feiras e lojas de toda a França. Em suma, quer erradicar a burka, pura e simplesmente. Eu, sinceramente, não vejo uma forma pacífica na aplicação desta lei e, parece que os polícias franceses também não. “Policiais de Lyon já questionam como vão dizer às pessoas, por exemplo, em Vénissieux (bairro com grande população muçulmana), que as mulheres tirem a burka”. Pois, eu também não sei como o vão fazer! Afinal de contas, há imensas mulheres que consideram a burka como uma manifestação da sua própria cultura, podendo sentir-se ofendidas e desrespeitadas.

O ponto fulcral é que a questão da burca não pode ser discutida, unicamente, sob o ponto de vista ocidental. A burka serve para esconder a beleza da mulher, visto que os homens acreditam que há coisas que só eles devem ver. Se a burka for proibida, pode dar-se o caso de nos vermos a braços com o cárcere privado, visto que os homens podem não permitir que as suas mulheres saiam à rua sem a dita vestimenta. A mulher quer usar a burka, pois esta faz parte da sua cultura e personalidade, mas não o pode fazer, porque o Estado proíbe-o, impondo de forma déspota uma mentalidade ocidental (o não-uso da burka). Sair de casa, nessas condições, talvez não fosse a melhor opção para a mulher islâmica, que poderia ver-se envolvida numa situação constrangedora face à sociedade cultural em que está inserida.

Para nós, ocidentais, a burka não tem nenhuma utilidade. É considerada até uma idiotice e uma estupidez. Se me perguntarem a mim se concordo com o seu uso, eu digo que não. Não acho que uma mulher se deva esconder atrás de um grande “lençol”. A mulher deve ser livre de vestir o que bem quiser, quando bem o quiser, sem quaisquer tipos de restrições. Mas, ao mesmo tempo, compreendo que a burka, para as mulheres islâmicas seja um símbolo religioso. E privadas deste símbolo, elas podem perder a sua própria personalidade.

Não nos podemos esquecer que se por um lado há mulheres que se recusam a usar burka, há outras que insistem em continuar a usá-la. Daí que ache que a decisão do uso, ou não, da burka não deve partir de um qualquer Governo ou Estado, mas sim de dentro da própria sociedade islâmica. Se as mulheres não querem usar a burka, que se revoltem, que a dispam, que a queimem. Que façam o que bem entenderem! Mas se querem continuar a usá-la, que o façam. É um direito que lhes assiste. Assim como me assiste a mim de usar calças, ou saias, ou calções ou que mais me apetecer.

Foram algumas as opiniões que por aqui foram deixadas. Vamos lá passar uma vista de olhos por elas.

«Já uma vez fiz um trabalho sobre isto, numa formação em "igualdade de oportunidades". Há mulheres que não consideram a burca como símbolo de subjugação, mas sim como forma de manter a sua cultura viva! Para mim, não faz sentido que ninguém seja proibido, nem obrigado, a usar algo com que se identifique!» (Lia)

«Concordo com o Sarkozy, na medida em que as mulheres que não consideram a burca como símbolo de subjugação foram educadas a pensar assim, logo não conhecem nenhuma outra realidade. Já para não falar nas milhares de mulheres que a usam e não a suportam, mas são obrigadas a usar. É claro que nada é assim tão linear e se começamos a desrespeitar outras culturas não podemos esperar que respeitem a nossa.

O problema está mesmo na imposição. Se a burca for imposta, sou contra. Por outro lado se for uma escolha pessoal sem qualquer imposição não tenho nada contra.

Outro factor hoje em dia é o factor segurança e, nesse ponto, acho que devia ser proibida pois nunca sabemos o que está por baixo da mesma.» (Anne)

As mulheres islâmicas foram criadas naquela realidade, é verdade. Mas sabem bem que as coisas não funcionam assim no resto do mundo. Sabem que noutros países há liberdade de escolha. Se elas querem adoptar essa liberdade, que o façam. Como já disse em cima, que se revoltem contra o uso da burka. Já muitas o fizeram. Se as restantes lhes quiserem seguir os passos força nisso. Assim como acho errado impor o uso da burka, também acho errado impor o seu não-uso. Quanto ao factor segurança é um pouco mais complicado. Mas não vai ser pelo não-uso da burka que os terroristas islâmicos vão deixar de matar. Se não se esconderem debaixo da burka, escondem-se debaixo de um grande casaco, ou num carro e espetam-no contra um edifício público. Se eles querem matar, fazem-no e pronto.

«Não sei, quem sou eu para opinar sobre um costume que não me diz absolutamente nada?

Isso para mim é a mesma coisa que andar na rua mascarado. Se uma mulher entrasse assim numa ourivesaria eu pensava logo que a ia assaltar! LOL

Mas também é assim, quando nós vamos para os países deles temos de cumprir as regras deles e andar com a cabeça coberta, porque é que eles não têm de cumprir as regras também nos países dos outros? Se não gostam têm bem remédio.» (Olhos Dourados)

Esta é uma ideia errada que muitos têm. Quando vamos aos países deles não somos obrigados a ter a cabeça coberta sempre que andamos na rua. Só temos que o fazer quando queremos entrar em alguma Mesquita que, não nos esqueçamos, é um local sagrado.

«Primeiro que tudo, concordo com a finalidade da medida que foi evidenciada da seguinte forma:

"A burca não é um símbolo religioso, é um símbolo da subjugação, da subjugação das mulheres."

Nesse aspecto, penso que é uma medida salutar, pois vivemos no século XXI e a França, como país moderno, livre e democrático que é, não pactua com medievalismos sociais.

Porém, as coisas mudam quando se obriga as pessoas a alterarem os seus costumes e aquilo em que acreditam. E existem mulheres com estas práticas tão assimiladas que talvez se sintam desrespeitadas com esta decisão. Talvez uma comunidade inteira se sinta desautorizada.

O conceito de liberdade sofre, então, um volte face, já que esta medida pode ser encarada como um impedimento das pessoas serem como querem e gostam.

Depois, é claro que esta tomada de posição também pode originar confrontos entre religiões, pode acentuar despiques extremistas, enfim, muitas quezílias.

Por isso, mostro-me dividido, mas entendo a ideia da França, segundo as declarações do presidente Sarkozy.» (Saga)

O meu medo é exactamente esse, os despiques extremistas e as quezílias que se podem originar. Se uma mulher quer usar a burka, como é que a polícia a pode impedir. Vai prendê-la, vai arrancar-lhe a burka à força?

«Tudo o que diz respeito a culturas de países tem muito que se lhe diga. Por mais absurdo que a nós, ocidentais pareça isso da burka, tem que se ver aquilo no contexto em que está inserido. Um pouco como a declaração dos direitos humanos, feita por ocidentais e que não se adequa nem um pouco à grande parte dos países do mundo!

Eu concordo que quem quer, deve ter o direito de usar e que o ideal seria que quem não quer não as usasse.» (Hyndra)

«Quando se mistura religião e politica nunca dá certo, isto porque sou da opinião que não cabe a ninguém proibir o que para muitos é um símbolo de fé e de costume.

Já há mulheres que por si decidiram deixar de usar burca por isso acho que deve ser uma decisão da própria pessoa, mas claro é complicado.» (Nadyta)

*********

E li hoje no jornal Expresso que a burka vai ser proibida. Quem a usar pode pagar uma multa de 137 euros ou cumprir uma pena de prisão de sete dias. Acho isto rídiculo. É a mesma coisa que me prenderem no Afeganistão por estar a usar um crucifixo ao pescoço.

Segundo percebi os fundamentos para esta lei não são bem os que o Presidente francês apregoa. Segundo o Ministério do Interior, só 1900 mulheres usam regularmente véu integral, ou seja, 3 em cada 100 mil. "É uma lei perigosa, inspirada por considerações políticas que nada têm a ver com a defesa das mulheres", afirma o ex-primeiro-ministro gaulista, Dominique de Villepin. Para este senhor, a lei advém da necessidade de Sarkozy reconquistar votos perdidos nas recentes eleições regionais para a extrema-direita.

(Escrito a 25/04/10 - post agendado)

7 comentários:

Lia disse...

concordo contigo! E acho que tudo o que é imposição acaba por despertar guerras infundadas!

Artemisa disse...

Lia...

Pois, esperemos que nada de mal aconteça e que alguns fundamentalistas não ajam de forma violenta a esta lei.

Bjx

Pinkk Candy disse...

Também não concordo com essa lei.

Artemisa disse...

Pinkk Candy...

Pois, é que vai ser dificil aplicá-la. E achi ridiculo o Estado intrometer-se neste assunto.

Bjx

Olhos Dourados disse...

Se calhar não é obrigatório as mulheres ocidentais usarem-na naqueles países, mas são muitas vezes aconselhadas a usarem para não terem eventuais problemas com radicais daqueles países.

E já agora sobre a parte da segurança, o facto de não sabermos quem está ao nosso lado? Pode ser uma mulher a manifestar a sua cultura, como pode ser alguém mal intencionado.

Artemisa disse...

As mulheres são aconselhadas a serem discretas sim, mas não são obrigadas a usar nada que não queiram.

Quanto à segurança, eu percebo o teu ponto de vista. A burka é um grande manto e debaixo dele pode-se esconder muita coisa: armas, bombas, etc. Mas assim sendo, tinhamos que proibir também as gabardines, as batinas dos padres, entre outro tipo de roupa. Pois sendo roupas largas é possível que funcionem como esconderijo.

É um assunto complicado este.

Bjx

Olhos Dourados disse...

Pois é, mas eu referia-me a terem a cara escondida, isso é que incomoda. Sei lá, tinha medo que, ao passar por alguém assim com a cara tapada, e como é normal usarem isso, eu não me afastar, e depois fazem-me mal e eu nem sequer saber quem foi porque tinham a cara tapada. Sei lá, se calhar sou só eu que tenho a mania de perseguição! lol

De resto por mim cada um anda conforme gosta.