sábado, maio 02, 2009

Doubt...


Recentemente vi este filme. É um filme diferente daquele a que estamos habituados a ver. Um filme profundo sobre a fé e a perda da mesma, sobre convicções e dúvidas, sobre o pecado e virtude, sobre inocência e maldade.

Uma história com acções bem conduzidas onde estes temas são abordados de uma forma precisa e ilucidativa.

Quatro dos actores deste filme foram nomeados para um Oscar… pena nenhum deles ter conseguido arrecadá-lo. Entre as mais vastas interpretações destaca-se Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman que mais uma vez demonstraram o porquê de serem dos mais conceituados actores em actividade.

História: Um ano depois do assassinato de John F. Kennedy uma comunidade católica do Bronx, em Nova Iorque, une-se ao redor da Igreja de Sant Nicholas. A congregação vive uma época de conflito entre a visão moderna de um padre e a conduta tradicionalista da freira que dirige a escola de Sant Nicholas. Um líder inespirado, padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) é visto com desconfiança pela freira Aloysius Beauvier (Meryl Streep), especialmente depois de um sermão pregado pelo mesmo cuja Dúvida era o tema principal. Semeando perguntas e suspeitas entre as freiras da congregação, ela pede a Irmã James (Amy Adams) para que esta vigie as acções do padre. Depois de a Irmã James ter visto algo que considerou suspeito, a Irmã Aloysius empreende uma cruzada contra o padre Flynn, tentando por todos os meios provar que este teria uma relação "anormal" com um aluno negro da escola.

Critícas: Só pelo resumo do filme já se pode ver quais os temas abordados. Para começar a questão da dúvida para pessoas religiosas como é o caso de um padre. Todas as pessoas sabem que a dúvida é o oposto da fé e que, pelo menos em teoria, pessoas religiosas vivem a fé plena.

O problema é quando um religioso tem dúvidas e não encontra respostas para as suas perguntas. O que fazer então? No filme temos de um lado a freira Aloysius, uma mulher dura, convicta, firme nas suas crenças, fé e propósitos. Do outro lado, temos ao padre Flynn, um “modernista” dentro da Igreja, que não leva a ferro e fogo os dogmas católicos, acreditando que a Igreja se deve renovar de forma a tornar-se mais receptiva aos outros. Tradição versus modernidade!

Mas mais do que isso, Doubt mostra que as linhas que separam estas duas personagens não são tão evidentes assim pois, chega uma altura em que percebemos que a irmã Aloysius e o padre Flynn são mais parecidos do que ambos gostariam de admitir, seja pelas dúvidas que os atormentam, pelas convicções que abraçam ou pela culpa que carregam devido a erros do passado (ou talvez presente).

Mas há mais. Existe uma disputa óbvia entre as duas correntes dentro da igreja. Mas, existe também uma disputa interna, pessoal e instransmissível. Grande parte das personagens do filme encontram-se num momento de crise, de dúvida, de estabelecimento de convicções. Assim como existe o conflito entre inocência e a experiência ou malícia. Uma autêntico abismo separa a irmã Aloysis e a irmã James. Talvez um abismo que advenha da experiência de uma e inexperiência de outra, respectivamente, ou, talvez, de algo maior do que isso, sentimentos caracteristicos e instrínsecos ao ser humano.

Além de todos estes temas, o filme toca noutro muito delicado: o abuso de crianças por parte dos padres. Temos assistidos a inúmeros escândalos neste sentido. Uma cruz que a Igreja tem que carregar.

No final, não fica comprovada a culpa do padre. Fica a dúvida! Ainda que eu ache que cada pessoa pode tirar a sua própria conclusão e fazer o seu próprio final. Alguns terão certeza que o padre abusava sexualmente do aluno negro, outros acharão que ele saiu da paróquia para não criar mais problemas ao rapaz que, supostamente, era abusado, pois este já era perseguido devido à cor de pele e pela sua maneira particular de ser (a mãe deu a entender que ele era homossexual). A dúvida realmente permanece no final do filme.

Eu, pessoalmente, acho que o padre Flynn estava inocente de tal acusação. Não porque seja intrinsecamente boa e acredite que todos temos um coração puro. (Pois já tive a minha quarta parte de momentos menos positivos, com pessoas de "coração obscuro") Mas antes porque alguns indícios que surgiram no filme me apontaram para tal...

Quem viu o filme talvez se lembre destas pequenas pistas... Quem não viu, aconselho vivamente a ver. A primeira pista vem do 1º confronto real entre a irmã James e a irmã Aloysis que teve lugar no escritório da mesma. Um confronto que adveio da certeza (mesmo sem provas) de que o padre Flynn mantinha uma relação pecaminosa (digamos assim) com o tal aluno. A irmã James, que acredita na inocência do padre Flynn, suspeita que a reitora da escola empreende esta cruzada contra o padre unicamente por não gostar dele, da sua maneira de ser e ver as coisas. Fica tão revoltada, insurgindo-se de tal modo que grita com a directora da escola, sendo nesta altura que se estoira a lâmpada do tecto do escritório.

Pois bem, no final, aquando o confronto entre a irmã Aloysis e o padre Flynn o mesmo acontece na altura em que o padre, revoltado por estar a ser acusado sem provas, lhe pergunta o porquê de tudo aquilo. Será um sinal? A lâmpada estoirou com a irmã James e com o padre Flynn... Coincidência ou uma pista?

Sabemos que a irmã James é instrinsecamente boa, capaz de amar sem restrições, capaz de perdoar, capaz de ver o melhor em cada ser humano e incapaz de praticar o mal, não tendo qualquer tipo de malícia em seu coração. Não será o padre Flynn assim também?

Segunda pista... durante esta mesma discussão e após toda as frases da irmã James ouvia-se um forte trovão. Segundo a crença popular quando troveja é porque Deus está zangado connosco. Seria aquilo uma forma de mostrar que a directora estava enganada?

Bem, esta é a minha opinião, ou melhor, a minha visão e percepção do filme. Pode estar certa ou pode estar errada, nunca saberei. Continuarei na Dúvida...

Vendo bem… quem não tem as suas dúvidas?

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